Antonie Berman
ANTOINE BERMAN (Argenton-sur-Creuse, 1942-1991), graduado em filosofia e doutor em linguística, foi um tradutor e teórico da tradução francês. É conhecido por sua atuação política de resistência ao etnocentrismo e ao conservadorismo linguístico – imposto pelo classicismo na França – tanto na sua reflexão histórico-crítica sobre a tradução quanto na sua prática tradutória. Dentre seus trabalhos sobre o tema, que têm como base o Romantismo alemão, além de sua experiência na Argentina durante a ditadura militar (entre 1970 e 1975), destacam-se L’épreuve de l’étranger (1984), La traduction et la lettre ou l’auberge du lointain (1985), Pour une critique des traductions (1995) e Jacques Amyot, traducteur français (2012), os dois primeiros já traduzidos para o português.A produção intelectual de Berman, à diferença do que frequentemente se divulga, tem início antes da década de 1980. Em 1967, ele e o poeta franco-libanês Fouad El-Etr decidem juntos fundar a revista La Délirante, com o intuito de promover um movimento de resgate crítico do pensamento do primeiro Romantismo alemão, que havia sido obliterado no pós-Guerra. Em La Délirante, os dois editores publicavam traduções, para o francês, dos fragmentos de Schlegel e Novalis, assim como textos contemporâneos escritos sob inspiração romântica. Entre 1967 e 1969, enquanto atuou como diretor da revista, Berman publicou traduções e também produções autorais, a exemplo do diálogo La tâche de la poésie est simplement… (traduzido para português) e destas Cartas para Fouad El-Etr (1968). Nesse ensaio epistolar, além de apresentar uma leitura aguda das propostas teórico-reflexivas do primeiro romantismo alemão, especialmente tocado pelo pensamento de Novalis, o autor e teórico francês realiza uma romantização de seu próprio texto, em que várias vozes se entrelaçam na tentativa de um exercício radical de escrita.