Ana Elisa Ribeiro

Ana Elisa Ribeiro

Subnarradas: mulheres que editam

 

O ensaio de Ana Elisa Ribeiro reflete sobre maneiras de ocultar e de tornar visível o trabalho de mulheres editoras, especialmente no contexto brasileiro. Revisita importantes projetos editoriais, chamando atenção para hierarquias e pressupostos que ainda determinam os modos de se pensar e fazer livros.

“Editora: esta palavra sempre me incomodando, produzindo ambiguidades que é preciso resolver com redundâncias. Outras pesquisadoras da edição feminina – e feminista –, em outras línguas, não lidam com esse problema. Em português, editora é palavra que remete, antes, à casa editorial; somente em segundo plano, depois de uma explicitação ou conforme contexto específico, editora tem como referente uma mulher que edita. Talvez a precedência de um sentido sobre outro seja mesmo uma questão linguística, semântica, mas que em diversas ocasiões acaba por se transformar em problema de discurso. Tenho operado, em razão dessa ambiguidade incômoda, porque distanciadora, com a expressão mulher editora, o que nem sempre soa bem. Uma mulher que edita, aliás, quase nunca soou bem, e não por razões gramaticais. Editor, por outro lado, não causa nem causou espanto. E não é ambíguo, mesmo que seja múltiplo em tarefas, possibilidades e modos de encarar e exercer o ofício.
(…) Retrospectivamente, pode-se dizer que as mulheres que fundaram editoras e compuseram catálogos exerceram uma práxis feminista. Sem serem, às vezes, feministas conscientes, consistentes ou autodeclaradas, quase só podiam ocupar o espaço que ocupavam porque agiam contra determinadas assimetrias e hegemonias, com menor ou maior percepção do que lhes ocorria. No entanto, a história inenarrada ou subnarrada das mulheres editoras (no Brasil, mas desconfio que em qualquer parte) mostra que elas existiram e existem, muito conscientes de seu feminismo assumido, ao menos no caso de algumas pioneiras. Alguns dos projetos editoriais femininos inaugurais no Brasil se nutrem de leituras e ações plenamente feministas, de nuances estas ou aquelas, mas conscientemente feministas, como é o caso da editora Mulheres, em Santa Catarina, ou da Rosa dos Tempos, de Rose Marie Muraro, no Rio de Janeiro, ou de Tânia Diniz, em Belo Horizonte, com o mural e a editora Mulheres Emergentes, todas dos anos 1980-90 em diante. Essas trajetórias mostram uma relação tão intrínseca entre criadora e criatura que as iniciativas só terminam ou se esgotam com a morte de suas idealizadoras/fundadoras. Às vezes, morrem com elas, a despeito da tentativa de outras pessoas de darem continuidade aos projetos.”

– Ana Elisa Ribeiro

Sobre a autora

Ficha Catalográfica
Coleção: Perspectiva Feminista
Coordenação editorial: Laura Erber
Editoras: Ana Bernstein e Laura Erber
Revisão de texto: Maria Cecilia Andreo
Preparação de texto: Angela Vianna
Design gráfico: Maria Cristaldi
Publicação: 2020
ISBN: 978-8793-530-77-5

Especificações Técnicas
Arquivo: Portable Document Format (PDF)
Formato: 210 x 297 mm (A4)
Páginas: 65
Tamanho: 622 KB

SKU: ZZ-2157 Categoria: Tags: ,

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