Beatriz Galhardo

Beatriz Galhardo

À escuta dos pés: caminhada e dança em “Notícias de América”

 

Nesta análise atenta e aguda do trabalho do artista Paulo Nazareth, Beatriz Galhardo descortina uma série de questões relacionadas ao bipedismo e à história dos calçados para explicitar o alcance de “Notícias de América”, um conjunto de ações que envolvia caminhadas realizadas durante um ano para ir de Belo Horizonte a Nova York.

“A cada pisada, o corpo humano em deslocamento e ereto sobre os dois pés realiza um trabalho para permanecer nessa postura, uma constante organização corporal em relação à gravidade. Os pés desempenham um papel fundamental nesse trabalho, já que são os únicos pontos de contato com o solo durante o deslocamento. Uma maneira de pensar a transformação das funções sociais dos pés na cultura ocidental é considerar o uso dos calçados. A partir de alguns dados históricos acerca do uso dos sapatos na cultura ocidental, procuro apontar neste ensaio como o trabalho ‘Notícias de América’ (2011-2012), do artista mineiro Paulo Nazareth, relaciona-se com essas transformações das funções sociais dos pés ao eleger a caminhada como principal gesto performativo a ser realizado. Como quem realiza também um exercício de caminhada, por imagens, autores e citações, buscarei traçar aproximações entre o trabalho de Paulo Nazareth, o campo da antropologia e o campo artístico da dança.
No livro Estar vivo: ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição, o antropólogo britânico Tim Ingold propõe uma percepção das coisas no mundo mais próximas ao chão. O autor faz uma crítica ao modelo de pensamento evolucionista biológico que, durante o século XIX, comparou os processos de desenvolvimento entre primatas e humanos a partir dos estudos realizados por Charles Darwin e T. H. Huxley, mas que, segundo Ingold, encontram ecos até a Antiguidade Clássica, nos escritos de Xenofonte, Aristóteles, Vitrúvio e Gregório de Nissa. Mas qual seria esse modo de interpretar as mudanças anatômicas entre os grandes primatas e os humanos? Um modo que prevê a superioridade humana como consequência de um aprimoramento intelectual específico, a ideia de que a locomoção bípede libera as mãos e que a partir dessa liberdade das mãos o ser humano teria desenvolvido uma superioridade intelectual quando comparado a seus antepassados primatas.
(…)
Segundo Ingold, essa história da evolução humana demarca também um modo de compreender a descendência do homem na natureza em prol de uma ascendência para fora dela mesma. ‘A evolução humana foi retratada como a ascensão e finalmente o triunfo da cabeça sobre os calcanhares’. No entanto, esse retrato da evolução humana parece esquecer que o triunfo da cabeça sobre os calcanhares só é possível quando não levamos em consideração o trabalho dos pés na manutenção da saúde, tanto da coluna vertebral quanto, mais especificamente, da região cervical e, consequentemente, do próprio cérebro.”

– Beatriz Galhardo

Sobre a autora

Ficha Catalográfica:
Coleção: Pequena Biblioteca de Ensaios
Coordenação editorial: Laura Erber
Editora: Laura Erber
Preparação de texto: Angela Vianna
Revisão de texto: Maria Cecilia Andreo
Design gráfico: Maria Cristaldi
Publicação: 2020
ISBN: 978-87-93530-49-2

Especificações Técnicas:
Arquivo: Portable Document Format (PDF)
Formato: 210 x 297 mm (A4)
Páginas: 65
Tamanho: 1,99 MB

SKU: ZZ-2116 Categoria: Tags: ,

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