Dipesh Chakrabarty
O planeta: uma categoria humanista emergente
Tradução de Gabriela Baptista (Pretexto)
TRECHO DO LIVRO
“Em termos empíricos, em sua história, os seres humanos sempre travaram contato com o planeta – a Terra profunda – através de terremotos, erupções vulcânicas e tsunamis, sem necessariamente tomar contato com ele como categoria do pensamento humanista. Lidavam com o planeta sem precisar chamá-lo por esse nome, como se vê no debate de Voltaire com o falecido Gottfried Wilhelm Leibniz depois do terremoto de Lisboa em 1755, ou no debate de Mahatma Gandhi com Rabindranath Tagore após o terremoto de Bihar em 1934. O planeta era incorporado a debates humanos sobre moralidade, teodiceia e mais recentemente sobre a ideia de desastre natural. No entanto, à medida que foram se acumulando indícios de que a distinção natureza/humano é, em última instância, insustentável, e que as atividades humanas em todo o mundo podem ter contribuído até para o aumento de terremotos, tsunamis e outros desastres “naturais”, o planeta propriamente dito tem surgido como um local de interesse existencial para aqueles que escrevem suas histórias no que tenho chamado de regime planetário ou antropocênico de historicidade”.