Ezequiel Zaidenwerg

Ezequiel Zaidenwerg

A tarefa do tradutor (de poesia)

 

Tradução de Simone Petry

A partir de dois gestos tradutórios estabelecidos inicialmente por Schleiermacher em 1813 – levar o leitor até o autor ou levar o autor até o leitor -, Ezequiel Zaidenwerg mostra em seu ensaio que a traduzibilidade do poema oferece uma extensa gama de possibilidades, para além de qualquer imposição ou credo metodológico. O autor dessacraliza a experiência do traduzir, concentrando-se em debater a questão do ritmo, da musicalidade, e chamando atenção para a natureza antológica que caracteriza o trabalho do tradutor de poesia.

“Em termos gerais, há dois tipos de tradutores de poesia: os que acreditam que a tradução deve ser uma ponte perfeita entre línguas e cosmovisões, capaz de reparar, ao menos por um instante, as consequências do desastre de Babel; e os que consideram que a tradução deve deixar que as marcas dessa separação sejam notadas, quando não diretamente expostas, dando ênfase à estranheza e à violência da passagem de uma língua à outra.
Todos os tradutores de poesia, em alguma medida, são religiosos: os iniciados, que em geral não tiveram a oportunidade de descer até o nível da tradução assalariada, adoram uma divindade negativa, e suas especulações agorafóbicas tendem a encontrar em certas repartições acadêmicas sua melhor estufa. Dentro desse grupo de iniciados – que ambiciona desmantelar a torre pedra por pedra – encontram-se os filólogos: são puristas, acreditam que o ‘sentido’ ou a ‘verdade’ poéticos estão encriptados no original. O caso extremo desse subgrupo são os tradutores de textos sagrados, para os quais uma tradução ideal deveria transmitir o significado de cada palavra. A última facção desse grupo são os próprios poetas, que acreditam numa espécie de céu platônico da poesia, onde os poemas existem como formas puras, independentemente de sua encarnação linguística particular. A tarefa do poeta tradutor é apreender essa forma ideal que transcende o “original”, despojá-la de todos os elementos que a prendem indissoluvelmente ao seu contexto de produção e injetá-la na tradição poética da língua de destino – claro que, além de ajustar sintaxe e léxico, trata-se fundamentalmente de encontrar um novo ritmo. O resultado deve ser um poema autônomo por si só, um processo, aliás, não muito diferente da escrita poética ‘tradicional’, que supõe uma destilação da experiência.
Mentes agnósticas que desconfiam – talvez com razão – da existência desse céu platônico da poesia quiçá tenham menos inconvenientes com uma ideia secular que, no entanto, é consequência lógica da anterior: se um poema em particular não é ‘obra’ de um autor, sendo versão de uma forma preexistente que, por sua vez, não pertence a ninguém, então a poesia não é um conjunto de poetas, mas de poemas, e o que chamamos ‘tradução’ apenas duplica a instância antológica.”

– Ezequiel Zaidenwerg

Sobre o autor

 

Ficha Catalográfica
Coleção: Pequena Biblioteca de Ensaios
Coordenação editorial: Laura Erber
Editora: Laura Erber
Tradução: Simone Petry
Preparação de texto: Angela Vianna
Revisão de texto: Maria Cecilia Andreo
Design gráfico: Maria Cristaldi
Publicação: 2020
ISBN: 978-87-93530-48-5

Especificações Técnicas
Arquivo: Portable Document Format (PDF)
Formato: 210 x 297 mm (A4)
Páginas: 23
Tamanho: 372 KB

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