João Adolfo Hansen
Drummond e o Livro Inútil
SINOPSE
Neste belo ensaio, João Adolfo Hansen percorre a ética utópica de Drummond, seu compromisso com a experiência crítica do tempo presente, na dimensão menos visível e óbvia que a escrita sustenta. O ensaio não é inédito, tendo sido publicado anteriormente no Brasil e na Itália, apostamos aqui na importância de dar-lhe nova vida e circulação, como texto independente, podendo assim chegar a novas e novos leitores.
TRECHO DO LIVRO
“Na nota introdutória de seu primeiro livro de prosa, Confissões de Minas (1944), Drummond expõe a ética utópica de seu estilo. Data a nota de agosto de 1943, ‘depois da batalha de Stalingrado e da queda de Mussolini, propondo os eventos como balizas negativas do ‘exame da conduta literária diante da vida’. Afirmando que ‘Não há muitos prosadores, entre nós, que tenham consciência do tempo, e saibam transformá-lo em matéria literária’, declara que não desdenha a prosa e que a respeita a ponto de furtar-se a cultivá-la. Define-a como ‘linguagem de todos os instantes’; pelo avesso, a definição permite ver que ele não pensa a poesia como ‘linguagem de todos os instantes’, pois implica outros processos e fins.
Drummond postula que há uma necessidade humana de que não só se faça boa prosa, ‘mas também de que nela se incorpore o tempo, e com isto se salve esse último’. Frequentemente, a literatura é escrita à margem do tempo ou contra ele, por inépcia, por covardia, por cálculo. Não basta usar as palavras ‘cultura’ e ‘justiça’ para incorporar e redimir o tempo, mas é preciso ‘contribuir com tudo […] de bom para que essas palavras assumam o seu conteúdo verdadeiro ou então sejam varridas do dicionário’. Não há temas maiores ou menores; todos estão no presente, divididos pelas mesmas contradições históricas: ‘Este livro começa em 1932, quando Hitler era candidato (derrotado) a presidente da República, e termina em 1943, com o mundo submetido a um processo de transformação pelo fogo’. Nesse mundo, os escritores têm que se confessar mais determinados quanto aos problemas fundamentais do indivíduo e da coletividade, examinando com rigor as matérias da escrita para atuar criticamente nos processos inventivos que as transformam, separando o que merece durar como ‘conteúdo verdadeiro’. O preceito implica não aceitar as coisas como se apresentam, mas regredir ao pressuposto delas para evidenciar sua particularidade e explicitar seus encadeamentos em teias microscópicas de causa-efeito que permanecem impensadas para seus agentes, enredando-os em petrificações vividas como natureza. Segundo Drummond, o escritor deve classificá-las e destruí-las no comentário leve da crônica, na estranheza da ficção, na mescla tragicômica da poesia, dissolvendo a inércia de injustiças que se tornaram hábitos, de superstições vividas como civilização, de provincianismos com pretensão a universalidade, de ‘conteúdos verdadeiros’ que se naturalizaram como opressão. Como em Mallarmé, a Beatriz que lhe orienta a ética do estilo é a destruição.”
Ficha Catalográfica
Coleção: Pequena Biblioteca de Ensaios
Coordenação editorial: Laura Erber
Editores: Laura Erber e Karl Erik Schøllhammer
Revisão da tradução: Annie Cambe
Preparação de texto: Angela Vianna
Revisão de texto: Maria Cecilia Andreo
Design gráfico: Maria Cristaldi
Publicação: 2020
ISBN: 978- 87-93530-47- 8
Especificações Técnicas
Arquivo: Portable Document Format (PDF)
Formato: 210 x 297 mm (A4)
Páginas: 41
Tamanho: 508 KB