Lionel Ruffel

Lionel Ruffel

Forever Decameron

 

Tradução de Guilherme Bonvicini e Raíssa Cardoso

Texto de Lionel Ruffel sobre o Decameron de Boccaccio e os circuitos narrativos da peste. O ensaio é parte do livro Trompe-la-mort, publicado pela Éditions Verdier em 2019.

“O que importa, ouviram bem, é ‘não estar morto’, e o autor se apresenta para nós como quase morto, como sobrevivente de uma alternância mortal entre penas e excitação. E ele deve às conversas, aos colóquios com amigos, o fato de ter escapado da morte. O inverso poderia ser verdadeiro, o amor poderia consolar uma amizade infeliz e destrutiva. O autor poderia, ainda, de modo alternativo, ter escapado de colóquios mundanos pela sublimação amorosa, pouco importa. Uma vez mais, tudo está em seu lugar, o fogo que consome, as chamas que se propagam, as penas que se deseja enganar, sempre com mais distrações, com novos laços que enganam a morte.
Tudo está no lugar, a ficção começa quando se abre a primeira jornada de uma história que dura dez dias. E se abre como As mil e uma noites, com uma narrativa-moldura, tão apocalíptica e tão essencial para compreendermos o que ainda estamos vivendo.
É preciso contar a ‘peste mortífera’ esperando que as misérias tenham ‘seus limites no contentamento que sobrevém’. Tudo é questão de escoamento, de propagação, de transmissão da peste, pouco importam as razões, ‘fosse ela [a peste] fruto da ação dos corpos celestes, fosse enviada aos mortais pela justa ira de Deus para correção de nossas obras iníquas’. O narrador diz isso porque é necessário dizer, mas pouco importa, para ele não tem nenhuma relevância, Deus e os céus são a espuma dos dias, o que importa é o mundo, a Terra, o fenômeno da propagação e o que ele produz. E importa, sobretudo, que ‘nada serviu para detê-la’, pois nenhum obstáculo, nenhum limite, nenhum controle, nada pôde evitá-la. O que importa também é que a mortal pestilência sofreu uma mutação, deslocando-se do Oriente para o Ocidente. Lá, ela privou as regiões ‘de incontável número de pessoas’, o que não foi pouco; aqui, de certa forma, ela fez pior, atacando os corpos que transforma, que torna monstruosos e híbridos.”

– Lionel Ruffel

Sobre o autor

 

Ficha Técnica
Coleção: Pequena Biblioteca de Ensaios
Coordenação editorial: Laura Erber
Editora: Laura Erber
Tradução: Raíssa Cardoso e Guilherme Bonvicini
Revisão da tradução: Annie Cambe
Preparação de texto: Angela Vianna
Revisão de texto: Maria Cecilia Andreo
Design gráfico: Maria Cristaldi
Publicação: 2020
ISBN: 978-87-93530-47-8

Especificações Técnicas
Arquivo: Portable Document Format (PDF)
Formato: 210 x 297 mm (A4)
Páginas: 27
Tamanho: 416 KB

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