Desbravando o sertão carioca: etnografia da reinvenção de uma paisagem

Aqui a autora fala sobre a gênese dessa peculiar etnografia do imaginário sertanejo em terras cariocas:

“Quando iniciei minha pesquisa no Quilombo Cafundá-Astrogilda, em Vargem Grande no Rio de Janeiro, não tinha ideia de até que ponto Armando Magalhães Corrêa iria ser companheiro de pesquisa. O Sertão Carioca, de sua autoria, resultado de observações realizadas entre os anos vinte e trinta, era o livro de cabeceira de Pedro Mesquita, o quilombola e agricultor que me hospedou durante o trabalho de campo. Toda vez que saíamos para fazer caminhadas de reconhecimento pelo Maciço da Pedra Branca, Pedro saía com o livro, não em suas mãos, mas ‘no coração’: ele havia decorado trechos inteiros das crônicas, às vezes sabia até mesmo o número da página em que um fragmento se encontrava. Localizava na paisagem percorrida os trechos que sabia de cor, e assim sua narração se materializava.
Eu que pouco ou nada sabia de sertões, e muito menos cariocas, fui preenchendo meu caderno de campo com notas que me pareciam bastante marginais. O sertão não era evidente, mas sim o era o esforço coletivo por fazê-lo emergir e se manifestar, assim como a autoridade outorgada a Magalhães, cultuado e por vezes tratado como um parente distante. Um dia me dei conta de que havia acumulado tantas notas marginais sobre o assunto que já podia deslocá-las para um lugar mais central. Magalhães, seu sertão e as crescentes interpretações locais sobre eles foram se apresentando como um campo imenso a ser desbravado. Desfrutei muito do processo de escrita deste livro que agora a Zazie Edições publica. Me alegro em poder fazer parte de uma tão bela iniciativa editorial.”

– Luz Stella Rodríguez Cáceres

Sobre a autora