Rumo a um cosmopolitismo da perda: ensaio sobre o fim do mundo

Tradução de Caio Cesar Esteves de Souza

Mariano Siskind oferece aqui uma importante reflexão sobre o esgotamento de uma certa ideia de mundo e seu impacto sobre modelos de interpretação da literatura latino-americana contemporânea e do imaginário que ela mobiliza.

“Este não é um livro sobre a experiência do fim do mundo durante a pandemia de COVID-19. O ensaio que a Zazie Edições publica agora em português, foi escrito entre setembro de 2017 e maio de 2018, em meio à proliferação global de crises migratórias insuportavelmente dolorosas, e da decisão do governo dos Estados Unidos de prender em campos de concentração com jaulas metálicas as crianças que a triagem separava de suas famílias na fronteira com o México, além de todo o bombardeio cotidiano de notícias atrozes. Eu o escrevi para tentar entender o sentido das crises migratórias no contexto do colapso dos imaginários cosmopolitas dos quais acostumamos a nos servir para elaborar uma série de discursos sobre a hospitalidade como horizonte discursivo, para procurar construir projetos políticos e culturais baseados na luta pelos direitos de imigrantes e refugiados. Mais além do abatimento e da experiência de derrota que nos invade diariamente, a ideia do fim do mundo tenta elaborar a perda do mundo entendido como estrutura simbólica que sustentava discursos e práticas humanistas orientadas por um desejo de emancipação, igualdade e justiça universais. E preciso dizer também que não se trata de um ensaio sobre o sofrimento infinito de sujeitos migrantes e refugiados de carne e osso – não posso dizer nada sobre suas feridas e suas perdas, que pertencem ao âmbito do impensável para alguém como eu. Este ensaio se pergunta o que podem fazer a literatura e as artes diante do fim do mundo, o que podemos fazer com essa experiência de perda que oprime todos nós que nos dedicamos a pensar com elas.”

– Mariano Siskind

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