Wendy Brown
Cidadania sacrificial: neoliberalismo, capital humano e políticas de austeridade
Tradução de Juliana Bianchi Leão
TRECHO DO LIVRO
“A atual economicização neoliberal da vida política e social se distingue por uma produção discursiva que converte toda pessoa em capital humano – de si mesma, das empresas, e de uma constelação econômica nacional ou pós-nacional, como a União Europeia. Consumo, educação, capacitação e escolha de parceiros são configurados como práticas de investimento em si mesmo, sendo o “si mesmo” uma empresa individual; e tanto o trabalho quanto a cidadania aparecem como modos de pertencimento à (equipe da) empresa na qual se trabalha ou à nação da qual se é membro. Empresas modernas buscam seus próprios interesses, é claro, mas de uma maneira específica. Longe de serem deliberadamente vorazes ou indulgentes, para conseguir sobreviver e prosperar precisam buscar estratégias cuidadosas de investimento, aprimoramento de capital, obtenção de vantagens, redução de custos, adaptação a ambientes em transformação, a novos desafios e às prolongadas altas nas taxas de crédito. Em outras palavras, elas não são entidades smithianas, meramente engajadas em ‘intercambiar e permutar’, e nem tampouco criaturas benthamianas, que simplesmente buscam o prazer e fogem da dor. Ao contrário, enquanto a racionalidade neoliberal refaz o sujeito humano como partícula do capital, há uma passagem, da crua abordagem anterior do ser humano como maximizador de interesses, para a formulação do sujeito ao mesmo tempo como membro de uma empresa e como sendo ele mesmo uma empresa – apropriadamente conduzido, em ambos os casos, por estratégias de ‘governança’ aplicáveis a empresas.”